Ser bravo
Não
sei como os moleques que conheço acreditam que ser “o cara” é ser um
drogado, beberrão ou uma pessoa irresponsável na vida. Viver assim pode até ser
uma curtição para eles, mas isso é somente por um momento. Depois verão que
vivendo dessa forma, acabarão queimando os seus filmes perante a sociedade.
Quero
ser “bravo”, mais do meu jeito, ou
seja, da forma que acredito que deva ser. Assim, procuro primeiro cuidar do meu
corpo. Portanto, logo cedo já vou para a academia a fim de ter um físico bem
definido e saudável.
Todos
os finais de semana, eu vou ao salão fazer a minha unha, a fim de para tirar o
excesso de cutícula. Aproveito também para tirar os excessos de pelos da
sobrancelha. Por mais que não gosto muito de fazer isso, por doer demais, acabo
fazendo. Para encarar melhor essa dor, vivo pedindo para a mulher tirar os
pelos com calma e bem devagar.
A primeira vez que tirei os excessos da sobrancelha
senti tanta dor que me levantei da cadeira e não quis fazer a do outro lado.
Ficou engraçado. Uma sobrancelha igual à taturana e outra mais desenhada e
limpa.
Quando
termino de tomar banho, já visto uma bermuda maneira com uma blusa combinando.
Depois, coloco um cordão de prata no peito junto com a minha pulseira de igual
tamanho e cor. Logo em seguida, é hora de colocar um gel no cabelo a fim de
deixar ele bem arrepiado. Para completar a imagem de um garoto bem arrumado,
coloco uma colônia masculina de primeira qualidade. Faço tudo isso, para passar
uma boa imagem e deixar uma boa impressão com as mulheres que gostam de caras que se cuidam.
Lá
na escola, procuro sempre tirar boas notas e aprender ao máximo sobre as
matérias. Quando eu for independente quero ter um bom emprego e comprar carrões
possantes e tunados.
Sei
que o fato de me portar assim, sempre me deixou exposto a criticas de muitos,
pois vivem me rotulando de gay ou metido. Não tenho nada contra os gays, mas
sou hétero com certeza.
Aqui
na minha casa, meus irmãos me criticam somente porque depilo as pernas e
braços. Sempre explico para eles que faço isso porque acredito que a época de
homens das cavernas já passou. Gosto de me olhar no espelho e sentir que estou com
uma aparência agradável.
Não
sei o motivo pelo qual os caras não
percebem que ser assim é muito bom. As garotas sempre se aproximam porque
gostam desse estilo. Já peguei muitas e já pude até escolher, em festas, com
qual mulher ficar.
Mas,
sei que nem tudo é perfeição. Já tive, portanto, muitos problemas com os caras rivais que se acham “bravos”, por eles se portarem de um
estilo avesso ao meu.
Um dia saindo do clube, dei de frente com três
moleques e um deles disse para o outro que meu cordão era de boiola. Na hora
nem liguei e segui meu caminho. Quando achei que já tinha me livrado deles,
passaram por mim de bicicleta cuspiram em meu peito me chamando de “veadinho”. Logo depois, descobri que
estavam de bronca, porque a garota que um deles estava interessado acabou
dizendo que me queria por eu ser diferente dos outros.
Apesar
de ter pouca idade, já percebi que ser um garoto mais cheio de estilo nessa
vida tem seus momentos bons e outros ruins. Mas, pelo que parece, o lado
positivo e negativo está em tudo que existe ou fazemos. Contudo, mesmo sendo
assim a vida, é bem difícil viver certas situações, principalmente àquelas, as
quais nós tentamos fazer o melhor. E por buscar isto, somos importunados pelos
que não tentam fazer nada de bom.
Talvez,
um dia eu aceite que as coisas são assim. Enquanto isso não acontece, eu vou
conquistando o que quero e sendo esperto do meu jeito. Os inteligentes que me
sigam. Sou bravo do meu jeito.
Autora: Mari Silveira